quinta-feira, novembro 18, 2010

O voo... e os pés no chão

Rita Helena

Há alguns dias, recebi de uma concessionária uma oferta tentadora para trocar meu carro. Trocar de carro agora não estava nos meus planos, porque estou focada em outros projetos, como por exemplo, fazer uma pequena reforma na minha casa.

Por coincidência ou não, naquele fim de semana, acho que as concessionárias resolveram fazer promoções para acabar com seus estoques de carro. Parecia até época de eleições. Havia propaganda para todos os lados.

A tentação foi maior que a minha humilde determinação de não fazer dívidas naquele momento.

Pensei com os meus botões, nesses casos, eu preciso de um cúmplice, e nada melhor que o marido para embarcar ou empatar a tentação de fazer uma grande besteira.

Decidi ir com ele visitar uma loja para ver alguns carros, ou melhor, pesadelos de consumo.

Aconteceu uma coisa inusitada enquanto conversávamos com a vendedora. Deparei com um passarinho no chão próximo de um carro, deitado de barriguinha para cima e com as duas perninhas paralisadas.

O episódio desviou a nossa atenção. A vendedora comentou que aquilo acontecia com frequência, porque a loja era toda de vidro e os passarinhos voavam por ali e batiam nas portas.

Meu marido decidiu, então, pegar o passarinho e levar para fora da loja para ninguém pisar no minúsculo animalzinho.

Acho que ele resolveu fazer essa boa ação para compensar todas as maldades que ele fez quando criança com os amigos da mesma idade. Eles caçavam os passarinhos com estilingue para comer. Crianças não pensam nas consequências. Alguns quando crescem não matam nem insetos.

Do lado de fora da loja ele encontrou uma árvore e colocou o pássaro, que continuou paralisado. Ele ficou observando o passarinho, mas ele não esboçava nenhuma reação.

Meu marido percebeu que as pessoas que passavam por ali não estavam entendendo o que ele observava e ficou preocupado. Ele notou que o porteiro de um bloco residencial o observava desconfiado. Ele pensou: sou estranho na região, olhando para uma árvore, tornei-me um cara suspeito. Vou embora antes que chamem a polícia.

Imagina isso tudo passando pela sua cabeça em segundos. De repente, ele achou melhor retornar para a loja, mas antes, tentou mudar o pássaro de lugar, quando foi surpreendido com a atitude do passarinho de levantar voo. Ele suspirou feliz, sabendo que o pássaro estava bem.

Hoje ele não maltrada mais os pássaros. Já hospedamos um casal de passarinhos na nossa varanda até os filhotes nascerem. Eles foram mal educados!!!! Partiram e nem agradeceram a hospedagem.

Ele retornou para loja e apreciamos alguns carros, afinal de contas, fomos lá para isso. Se não fosse o passarinho para desviar a nossa atenção.

Os carros eram belíssimos, mas a tentadora vontade de trocar de carro passou. Um vigiou o outro e deu certo. Fizemos como o passarinho. Levantamos voo de volta para casa, mas com os pés no chão.